2018-03-31



Um exemplo de jornalismo
Ó Gonçalo
anda daí

Antunes Ferreira
Um gajo bué fixe. Modernice que define bem – na modestíssima opinião de quem se atreve a usá-la – o cidadão em causa que é o Gonçalo Pereira Rosa um Homem que, salvo as devidas proporções e situações é comparável ao bacalhau pois em vez das mil e uma maneiras de preparar este, ele usa e abusa dos ofícios e correlativos. É um fartote.

Conhecemo-nos no ano passado e encontrámo-nos na “Flor do Lumiar”, uma pastelaria/padaria, a duzentos/trezentos metros de minha casa, o convite fora do Gonçalo pois dissera-me por telefonema que gostaria de me entrevistar sobre uma conversa/entrevista que eu tivera com o Lech Walesa em Gdansk quando ali me deslocara em serviço ao Diário de Notícias de Lisboa de que era então o Chefe da Redacção adjunto.

Mal nos sentámos senti que tinha sido “vítima de uma faísca eléctrica” e que, na verdade era o imediato e instantâneo começo de uma empatia que logo depois se transformava em Amizade, entre o Gonçalo e eu. Não eramos, claro, irmãos gémeos, mas eramos almas fémeas (se é que as almas existem…, dúvida essa que também com partilhamos, porra, que é demais!)
 
Sem legenda
A entrevista correu muitíssimo bem, antes dela eu estava um tanto abismado pois normalmente quem as fazia era eu, e só por duas vezes sujeitos impolutos (uma dos quais “sujeita”) tinham tido a pachorra de me aturar durante umas horas para esmiuçar um episódio de um passado mais ou menos intraduzível. No final, o rapaz não esteve com meias medidas: prantou-a no seu livro intitulado O Inspector da PIDE que Morreu Duas Vezes.

De resto o meu amigo Pereira Rosa já tinha publicado em 2015 Parem as Máquinas e em 2016 A Gripe e o Naufrágio. Ora muito bem, chegou a altura de contar um tanto resumidamente quem é este Senhor de seu nome Gonçalo Pereira da Rosa, jornalista dos quatro costados, também escritor, pesquisador, professor universitário, director da edição portuguesa da National Geographic e não sei que mais… Daí a comparação espúria inicial com o bacalhau.

Começou a ser jornalista em 1994 em jornais desportivos, revistas semanais e mensais e como acima se menciona desde 2001 na National Geographic. Diz com um ar de chalaça que comprovou aquilo que Raul Brandão disse em tempos: as Redacções atraem os doidos como a luz atrai as falenas, irremediavelmente. Aliás cita o Baptista-Bastos que escreveu em Os Deuses Absurdos que as redacções são armazéns de loucos donos de um império consumido todos os dias, cabouqueiros de um edifício que todos os dias colapsa.

 
Com Baptista-Bastos
O rapaz como também antes apontei é catedrático de Jornalismo na Universidade Católica desde 2008 e diz ele “ensina os meninos e meninas a respeitarem os jornalistas que os precederam. Gente como António Enes, Emídio Navarro e Mariano de Carvalho no século XIX, um esgrimia com o floreste, o outro com o varapau e o terceiro a soco ou a pontapé. Gente como Artur Portela, Joaquim Manso, Norberto Lopes ou Norberto Araújo, que esgravataram ideias e prosa apesar da Censura. Ou gente como eu (sem modéstia agradeço a referência), o António Valdemar ou o Luís Alberto Ferreira que ousaram bater-se por exclusivos quando as administrações só queriam saber de contas.

Abri aqui um parênteses para mencionar outros excelentes jornalistas com os quais tive o prazer e a honra de trabalhar desde o inigualável Mário Zambujal (que criou um estilo muito próprio na literatura portuguesa actual a partir do espantoso e delicioso Crónica dos Bons Malandros) até aos Já falecidos Raul Rêgo e Cunha Rêgo, passando pelo também desaparecido Càceres Monteiro, Ferreira Fernandes, Adelino Gomes Joaquim Furtado Manuel António Pina (Falecido) e tantos outros, entre os quais ainda acrescento as minhas queridas Alice Vieira e Maria Antónia Pala, o Carlos Pinto Coelho, o João Aguiar, ambos também também incluídos no número dos mortos e o Fernando Dacosta.
 
Neandertal
Gonçalo define-se: é esquerdista incorrigível, sportinguista sem remissão (daí a a segunda entrevista que acaba de me fazer sobre o grande presidente que foi João Rocha cujo nome foi dado ao pavilhão velha aspiração de nós, os leões), ateu e casado. E para finalizar a conversa que durou até quase ao jantar e durante a qual cometi um gravíssimo pecado (não lhe ofereci algo para beber!), mea culpa, Gonçalo ainda somou que segundo um teste de ADN do National Geographic, descobriu que tem 1,9% de material genético comum com os Neandertais. E remata com uma bomba. A sua mulher, quando sabe das figuras que ele faz no futebol diz que deve ser engano: é capaz de ser mais!